Roça é paraíso, mas tem perrengue

Muitas pessoas consideram a roça o paraíso na terra, levando em consideração a beleza natural, a paz, a tranquilidade e o contato direto com os animais. Acreditem, estão certos, eu constatei isso na pele. Mas perrengues existem, principalmente para mim, 25 anos, nascido e criado em um grande centro urbano, pai solteiro e desempregado, vivendo hoje apenas do que a roça começa timidamente a me oferecer, claro, tenho a sorte de poder contar com o apoio incondicional da minha família, principalmente no que se refere a criação de um bebê de apenas 1 ano, meu filho.
Mas deixando de lado todos os atrativos que a zona rural tem a nos oferecer, vamos elencar as dificuldades que esta pessoa que vos fala está vivenciando nesse pedacinho de paraíso:


  • A internet tem limites: o ponto crucial para um homem de 25 anos que muda para a roça, mas que desde os 3 anos de idade estabeleceu um contato praticamente ininterrupto com a tecnologia e seus benefícios, é abster-se da mesma por determinados períodos do seu dia, em especial, nos momentos de mudanças climáticas e se ver obrigado a restringir seu acesso por falta de infraestrutura de rede, seja em telefonia móvel ou internet banda larga. A única solução encontrada foi internet por satélite, a um custo mais elevado em relação ao que é ofertado nas zonas urbanas e com extrema limitação em consumo de dados. Funciona essa tal internet por satélite? Atende necessidades básicas? Funciona enquanto você permanece dentro da franquia contratada e atende as necessidades básicas de comunicação  após o término dessa franquia, porém, eu com 25 anos, que gosto de jogos, principalmente Online e desde que me mudei para cá, adivinha? Não pude mais jogar. Mudar para a roça, é também mudar seus hábitos, principalmente no que se refere à hábitos digitais.
  • Vida Social é inexistente: Eu nunca fui de querer ficar saindo de casa, sempre fui caseiro, meu quarto sempre foi meu refúgio social. Ficava apenas no computador me socializando com praticamente o Mundo todo à partir do meu quarto, seja por vídeochamadas, chamadas de voz, ou jogando online. Mas adivinha? Não temos isso também, em razão da limitação de dados do ponto anterior.
  • Trabalhar a terra é fácil? Quando vim da Cidade, vim flácido, era acostumado a ficar mais sentado do que em pé, peguei a enxada pela primeira vez aqui na roça, e mal aguentei limpar 2 metros de terra até sentir as dores do corpo, a sofrência vem à galope. Portanto, tenha uma rede para deitar na sua varanda, faz a total diferença (vai por mim).
  • Mudança de hábitos alimentares: Meus pais vieram para a roça antes deste que vos fala, levando consigo o meu filho. Ficamos meu irmão e eu morando juntos na Cidade, enquanto morava lá, trabalhava em um grande Hipermercado, no qual fazia as compras. Aí eu te pergunto, o que um homem de 25 anos compra num Hipermercado com desconto? Exatamente, porcariada. Eu juro por Deus, meu armário já chegou a ter mais de 50 pacotes de macarrão instantâneo. Como você acha que foi essa mudança em hábitos alimentares para mim? Sim, sofrido. Fast food, pizzas, e lanches, eram praticamente todos os dias enquanto durava o dinheiro. Acabando o dinheiro, eu recorria aos meus 50 pacotes de macarrão instantâneo. Portanto, quando  você se mudar para a roça, tenha em mente que seus hábitos alimentares mudarão junto com você. Adivinha à quantos fast food eu já tive acesso desde que me mudei para cá? NENHUM. Isso é um sofrimento.
  • Os insetos: Eu juro, eu nunca odiei tanto os insetos como passei a odiá-los aqui. Não somem nunca, vem de todo lugar, afinal, nós é que invadimos o território deles, não é mesmo? Mas sério, pensa nuns insetos chatos, graças à Deus existem os repelentes, e principalmente, as raquetes elétricas.
  • O carro: Pensa em um carro que nunca quebrou na Cidade, mas resolve quebrar na roça, no meio da estrada, em dia de chuva. Esse é o carro do meu pai. Nunca deu um trabalho que fosse enquanto morávamos na Cidade, mas aqui? Parece que faz de propósito. Portanto tenha em mente que você precisa ter um carro que pelo menos seja alto, e de preferência 4x4, senão os perrengues no carro irão te procurar, e acredite, vão te achar.
  • Os dias frios e chuvosos na roça: Pensa que esses dias são dentro de casa tomando um chá e assistindo TV? Que nada, é justamente nessas horas que aparece uma entrega para fazer, uma fruta para colher, galinhas, pintinhos e peixes para alimentar, cachorros para cuidar, e claro, o bebê que eu tanto amo dentro de casa. Não bastasse isso, a terra ainda vira lama justamente por onde você tem que caminhar, não só atrasando tudo, mas tornando as coisas mais difíceis também.
  • Os mercados locais: Esses são um caso à parte, fora a distância, você não encontra praticamente nada do que está acostumado a comprar no que se refere principalmente às guloseimas, e quando encontra os preços são exorbitantes.
  • Despertador para quê? Antes das 5 horas da manhã, de domingo à domingo, ininterruptamente eu acordo com os galos cantando, detalhe, perto da minha janela. Mas uma coisa tem de bom nisso, quando são 20 horas, ao invés de eu ficar jogando, ou pendurado no computador, eu já estou me preparando para dormir. É o emprego mais cobiçado do Brasil.


Como vocês podem ver, nem tudo são flores, e isso porque ainda nem contei todos os perrengues pelos quais já passei por aqui. Mas claro, tudo isso baseia-se apenas em minhas experiências, com vocês pode acabar sendo diferente, inclusive vocês podem até nem passar por algum perrengue, afinal nenhum lugar é igual o outro. Agora vem cá, me pergunta se eu estou arrependido de ter escolhido me mudar para a roça: Em momento algum me arrependo da decisão tomada, acho que foi a decisão mais acertada que já tomei, estou desenvolvendo hábitos mais saudáveis, enxergando a vida com outros olhos, reconhecendo o que de fato tem valor nessa vida, reconhecendo beleza nas coisas mais simples que de outra forma jamais enxergaria, e principalmente estabeleci uma relação de fato mais saudável com meu filho.
Me conta aí das suas experiências, tem alguma dica? Quero saber.
No mais, desejo-lhes tudo o de melhor sempre, até um próximo artigo, minha boa gente.

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